Levantei-me da cama num pulo desembestado que nenhum pesadelo infame poderia causar. Apesar da noite fria, meu corpo estava suado, quente, frio, trêmulo, azedo. Olhei ao redor e era cedo, 02:57 da manhã - como se o trabalho não me esperasse logo mais, com minha mesa e minha pilha de textos à ler - e fui até o espelho... Susto.
Aonde eu estava esse tempo todo? Teria eu acordado sob uma nova perspectiva?
Deparei-me com a verdade fronte o espelho: passei dias, meses e quem sabe até mesmo anos me achando inócuamente ardilosa. Pobre de mim, que sempre tive pena de minhas, acredito eu, saudáveis circunstâncias.
A rua me chamava para dançar com o sereno, para ouvir a balbúrdia do silêncio, e eu, dispus-me a ceder o convite.
Vesti-me apenas com um sobretudo, pois sabia que na rua não encontraria vivalma para criticar meu estilo - ou a falta dele.
Essa era eu no auge da vida. Gostaria de dizer que o auge da vida não se encontra em certa idade. O auge é hoje, foi ontem e será amanhã. E perder o tesão pela vida é dilapidar cada fôlego profundo que é nos dado de presente. Mas voltando à mim. Eu, no auge, certo?
Fui até a farmácia vinteequatrohoras e deparei-me com um senhorzinho japonês. Pedi a ele que me desse pílulas para todos os males: tristeza, depressão, coração partido e o pior, a maldita falta de tesão pela vida.
Seus olhos, por natureza entreabertos, já exprimiam a felicidade por ouvir meus delírios. E foi ali que encontrei minhas pílulas-anti-vida. Nos olhos do velhinho japonês.
E me perdoe por essa valsa não falar de amor. Amor dorme cedo, acorda tarde, não trabalha, come demais e incomoda. Amor é chato. Amor é vômito, angústia, depreciação.
Amor é trapos, farrapos. Se mantém implícito, obscuro, insolente. Amor é um garoto virgem. Amor é úlcera e enjoos. E aqui estou, irremediável, incansável, falando de amor.
É, querido. Amor é necessário. E eu, nada sei dele.
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