Nós que nos somos


Sou uma bagunça devastadora, contagiosa e imponderável. Atrás desse meu rosto de feições plácidas e expressões difíceis de ler há um labirinto. Para se achar dentro de mim é preciso, antes de qualquer coisa, querer desesperadamente se perder. Eu, que me sou, reconheço a dificuldade que é saber o que sinto, quando sinto e se sinto de fato. Esse é um pseudo manual, um alerta encarecido e exasperado de quem já passa muito trabalho tentando encontrar a si mesma e, por isso, teme um outro alguém perdido para si e achado dentro dela. Gosto do encoberto, mas acho um tédio irremediável fazer de mim um mistério só para atiçar a libido desses homens com síndrome de Sherlock Holmes. Não tenho saco para brigar com minha consciência. “Ligo ou não ligo?” Grande porre. O mundo se travestiu de liberdade, quando na verdade é o mesmo sistema pré-projetado de sempre. Os homens ainda imaculam as virgens, cujo amor aparenta ser impoluto. Sexo casual é uma mentira que as mulheres fingem acreditar. Os homens não vão levar biscate nenhuma (ainda que linda e siliconada) para apresentar para a família e por aí vai. Então, pessoas que encaram a “verdade nua e crua” são vistas como sem graça, diretas demais, francas e ranzinzas ao extremo. Mas eu não deixo de ser uma bagunça e muito menos deixei de ser mulher. Eu tenho a síndrome da pré-disposição para canalhas bonitinhos. Eu grudo o celular na mão no dia seguinte e no dia depois do dia seguinte. Eu sou completamente apaixonada, embasbacada e vulnerável. Eu sou mulher nesse mundo travestido e, minha amiga, só nós sabemos como é difícil ser quem somos onde vivemos. Mas sabe o que eu penso? Ranzinza ou não, tudo tem muita graça. Então continuo a ser a bagunça contagiosa de sempre, o labirinto sem fauno, a eterna esperança do dia seguinte... Porque querida, de salto ou de pijama, de calcinha ou de calçola, sumindo ou dando a boa e velha louca que toda mulher dá... O que tiver que ser seu vem ao teu encontro, implorando para se perder nesse labirinto que você é. Vamos admirar nossas emoções e rir desse mundo fingido e fantasiado de modernidade. Se há fé no amor, estamos bem.

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