Bilhete

“Você não vem?”

Escrevi num pedaço de papel, em letras garrafais e meio trôpegas, querendo atenção. Mas você não leu. Como poderia, se você nunca entrou por essa porta? Olha que falta de convite não foi. Parece até que tem medo de querer ficar. É por isso que você nunca vem? Tem medo de gostar da bagunça do meu quarto, do silêncio da cozinha? Tem medo de me ver em cada parede, na pia do banheiro, na máquina de lavar roupa? Tem medo de gostar do meu colo? Tem medo de ser amado pelo meu amor? Porque se for isso, te digo que posso esticar o lençol na cama ou até tirar a mobília toda só pra não te assustar. Só não dá pra fugir do meu amor, só não dá pra não querer o meu colo. Fiquei encarando o bilhete e esbocei um sorriso pensando no tamanho da bobagem que eu acabara de fazer. Seria mais fácil catar teu telefone, ligar e perguntar se você vem. Fazer esse pedido em um pedaço de papel silencioso não é muito promissor, mas é que eu tenho tanto medo da resposta que me acostumei a te falar do meu querer de longe: eu escrevo, você lê. E já que é assim... Você não vem?

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