Monólogo de nós dois

Ultrapassei, ultrapassamos o limite da segurança que nos protegia de nós mesmos. E agora? Agora eu não sei, não sabemos, não quero conversar, já disse. Tive o inimaginável e - quem diria? - ele só se torna verdade quando é real ainda que tenha sido verdade pra mim, comigo, antes do físico, antes de tudo, antes, bem antes. Não sei se você entende... No meu medo de me decepcionar por causa da expectativa eu cheguei lá sem expectativa alguma, e o que aconteceu superou o que não existia. Não vou endeusá-lo, fomos bons juntos. Surpreendentemente bons, inacreditavelmente juntos. Não, não podia ter acontecido, mas aconteceu, então era pra ter acontecer, entende? O que há de se fazer a respeito? E eu que achava que o ápice seria o fim, me vi embarcando em outro início. Sem alusão, utopia. Com toque, com cheiro, com acertos e erros, moral e consciência. “Tinha que ser, tinha que ser, tinha que ser.” Repito, como um pedido de perdão, como se eu precisasse me perdoar por ter sido, e por ter sido como foi, e por estar sendo como tem sido, e por ser como vai continuar sendo... Ah, e tem o medo do depois, do amanhã, das continuações, esse medo covarde que substituiu o medo corajoso que só tinha medo de não te ter, esse medo que se resume no medo de entrar em algo sem saber se é possível sair. Não sei se você entende, não é imaginação, mas é surreal. Em êxtase, sem reação. Mergulhei num mar que é pra ser meu e que não posso ter, mas tive. Sei que você não entende, mas não é hora pra entender alguma coisa, só pra deixar ser o que tem sido porque aconteceu, sabe? Aconteceu.

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