Se permita: ame.

Então ele foi embora. Não olhou pra trás, porque sabia que se o fizesse, voltaria vertiginosamente e lhe agarraria os braços; lhe diria que o amor é a sentença de morte do "eu" para que o "nós" passe a existir. Mas ele seguiu em frentre, atropelando o orgulho, imaginando as lágrimas no rosto da amada, a qual sempre vira sorrindo.
Doeu. Mas a dor é a porta de entrada da mudança, aquilo que nos impulsiona a transformar nossa vida e a nós mesmos. A criança que passa pelas entranhas da mãe provoca a dor causadora da maior manifestação do amor: a vida.
Para que se torturar? Volte. Diga a ela que foi um erro. Que estava bêbado e a sobriedade lhe caiu em mãos repentinamente. Que a normalidade lhe possuiu por um instante, mas que a loucura de amar jamais se foi.
E no meio de tanta gente, caminhando... Ele chorou. Chorou porque sabia que seu coração havia ficado com ela, e continuaria, aonde quer que ela estivesse.
Pra que tornar as coisas mais difíceis do que elas são?
"Não acho que tudo dure pra sempre, mas nunca quis que algo durasse tanto como agora." Foram essas as últimas palavras dela que ele se lembrava, o que fez com que ele se arrependesse de imediato por ter sido o causador do fim prematuro.
"Acabou. Tenho que escolher: eu ou ela. É impossível viver em harmonia com os dois simultâneamente." É... Ele precisava de alguma desculpa para ter no que se apoiar.
É difícil agir quando milhares de sentimentos coexistem em nós, mas é necessário. E quer um conselho? Opte pelo amor. Orgulho, medo, hesitação, são só variáveis que têm como conseqüência a solidão.
Ah, perdoe-me. Deixe-me que eu me apresente: Sou a consciência dele. Sou o resto da sua dignidade. O fiasco de tudo que ele julgava excitante, feliz.
Meu trabalho é fazer com que ele volte... Dê de ombros pra tudo que não seja o amor. Afinal, o amanhã simplesmente não existe!
Não foi como num filme. A cidade não parou, ninguém andou em câmera lenta. Ele apenas virou os calcanhares e correu. Correu de volta pra ela.
As lágrimas escorriam, os pensamentos brotavam, ele nem sabia o que dizer. Até que ele chegou diante dela, que estava sentada na escadaria, imóvel. Nada precisou ser dito. Eles já sabiam o que fazer.