Dores e amores, eu e você

Feridas e mais feridas que abrem e fecham e tornam a se abrir, como um lembrete na geladeira dizendo: volto já. Feridas causadas pela mesma ironia, pelo mesmo infortúnio. Feridas que doem a mesma dor, que exalam o mesmo cheiro triste de quem não pode se libertar. Feridas que, no final das contas, me lembram do que não fomos, do que podíamos ser... Que na verdade, substituem as lembranças que têm se apagado com o passar do tempo. Eu posso escolher não sentir mais nada. Posso escolher fechar as feridas de uma vez por todas e apagar de uma só vez os resquícios das tuas imagens e dos nossos momentos e das lembranças... Mas anseio que, por todo esse tempo em que te amei com todo o meu amor (e um pouco mais), te apagar de mim resuma-se a apagar-me de mim também. Como se eu-e-você fosse nada menos que uma camuflagem. Dois em um.
Você me dói e não deixar com que isso tenha um fim faz com que eu perceba que eu em mim me dói também.
No entanto, se acostumar com a dor nada tem a ver com o amor, saturado, límpido, na sua melhor forma. Então, escolho hoje fechar as feridas que doem suas dores e refletem em mim, com um gosto azedo e um letreiro decadente que com muito esforço pisca: você, você, você. Aceito os prós, contras e os "quem-sabe". Se for necessário me apagar de mim para apagar você daquilo que sou, aceito também. Nada é destruído sem que possa ser refeito. Vou reinventar um eu diferente daquilo que fui. Não alguém imune à dor. Na verdade, um alguém imune a nada. Mas com certeza um alguém que sabe que você dói, e doer a mesma dor é chato, amor.

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