Alguém vai embora

Todos os dias você vai embora.

Você sai de casa, sai da aula, sai do trabalho, da garagem, do supermercado, da farmácia. Todos os dias você chega. Chega em casa, toma um banho, lê um livro, deita na cama, dorme. Chega pra se recompor e ir embora de novo dali algumas horas.  Não dói.
Num dia qualquer alguém chega. Chega na sua vida, toma um banho, abre os armários, troca a posição dos sofás, deita na sua cama e dorme - com você. Não é como uma ida ao supermercado. Se parece mais como uma viagem pra dentro da sua alma, só que dessa vez você leva esse alguém junto contigo. E esse alguém que chegou não só mudou a posição dos sofás como também inverte o teu organismo, desregula teu sono, te beija na nuca e te ama no chão.

Num dia qualquer esse alguém vai embora.

Não é como uma ida à farmácia. Os sofás ainda estão em suas novas posições, o chão ainda guarda lembranças daquele amor e a tua nuca sente saudade dos beijos de dias atrás. O teu organismo não mais invertido, se opõe. E as noites insones de amor viraram noites insones de saudade. Dói. E não há nada que você possa fazer a respeito além de comprar sofás novos, um tapete caríssimo e tomar um banho demorado. Basicamente, não há nada que você possa fazer além de tentar tampar aquilo aconteceu dentro e fora de você. Mas além da decoração tem as músicas que você não consegue ouvir sem que doa, os filmes que você não assiste sem chorar e os finais de semana que você passa sozinho, apesar de cercado por centenas de pessoas. As festas, os bares, a casa. Alguém chega e vai embora, e de um dia pro outro você não cabe mais dentro do próprio corpo.

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