Sou de quem me tem

Duas horas e algumas xícaras de café depois já era de madrugada. Só a luz alaranjada do meu abajur quebrava o escuro da sala. Adiantei o trabalho de daqui três anos, eu acho. Não tinha mais nada pra fazer, mas não conseguia dormir. Perambulei entre os sofás, botei uns livros no lugar, revirei gavetas esquecidas em busca de lembranças perdidas e nada.  
Acendi um cigarro e me espreitei na janela. Era isso. Xícaras de café, papéis empilhados e fumaça de cigarro. Quantas vezes me encontrei e me escrevi nessa situação? Bela merda, minha vida é um clichezinho escrito em qualquer pedaço de papel. De vez em quando eu ouvia alguém falar sobre como a vida é engraçada e olha, não sei. Não sei dizer se dá pra rir dela.
Não é engraçado quando você tem o abraço de um, mas quer o colo de outro. Não é divertido quando a resposta certa te dá um tapa na cara e você fica lá, assinalando a resposta errada e achando isso a coisa mais inteligente do universo. Sério, não tem graça ser humano. Eu nunca vou entender como que aquilo que é conveniente não nos atrai, enquanto aquilo que nos faz perder as tripas de nervoso e o sono de aflição é o que faz o nó do estômago parecer romântico. Entre madrugadas, cafés, cigarros e desamores eu vi que a se a gente não cuidar, a vida vira um conto manjado num pedaço de papel triste.
Eu queria tanto ser de quem me quer, mas eu só sou de quem me tem. 

Um comentário:

  1. A vida não passa de uma história clichê de qualquer conto escrito em qualquer pedaço de papel,alguns contos até valem a pena outros firam lembranças,alguns são passageiros e outros são apenas contos,contos clichês ou não,mais são contos de uma vida repleta de sentimentos...
    Eu particularmente levo tudo pro lado sentimental,esse é meu maior defeito...adorei seu blog e seu texto Parabéns beijos .

    http://rascunhosperdiidos.blogspot.com/

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