Às vezes acho que te quero demais na esperança de te ter por
completo e ver que você nem é isso tudo. Procurar teus defeitos pra não te
admirar tanto, pra te querer um pouco menos, pra finalmente parar de te
comparar com todo mundo que esbarra em mim e "não é tão bom quanto
você". Será que dá pra você ser mais esquisitinho? Dá pra ser um pouquinho
babaca? Sério, faz alguma coisa que me faça te querer menos. Esquece do meu
aniversário, fala de sexo explícito na frente dos meus primos pequenos, fuma três
cigarros de uma vez na frente da minha avó. Não sei. Pessoas apaixonantes me
dão medo. Você me dá medo. E eu nem sei como fazer pra desapaixonar. Parece que
você soltou o freio de mão das minhas emoções e agora eu tô despencando ladeira
abaixo.
Você chega aqui em casa no fim da tarde, cansado, com cheiro
de stress e vestindo aquela camiseta do Black Sabbath que eu detesto, e que
você usa justamente por isso. Abre a geladeira, pega a minha última cerveja,
emborca como se fosse água e, antes de me dar um beijo, solta um arroto
monstruoso olhando pra mim. Faço cena, “não
quero beijo mais coisa nenhuma!”, e você responde rindo com deboche. Aí
você tira a camiseta, senta ao meu lado no sofá e inclina a cabeça, apoiando a
mão direita na minha coxa e tentando se concentrar na TV. Te encaro séria,
pensando em como vencer o efeito que esse teu jeito
despreocupado-quase-sempre-amável me causa. E até encontro algumas saídas pra
deixar a tua vida, mas quando você fecha os olhos com força e sorri daquele
jeito malandro eu penso: Lindo. Não consigo pensar em nada além de um mísero “lindo”.
Não é
só desse teu corpo enorme e esquálido e desse teu jeito pretensioso que eu tô falando.
É você. E durante esses minutos que te encaro tentando retomar o controle de
mim e ir embora descubro que, pra meu desespero, eu só quero ficar.
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