Geração Y, sim

Somos a geração Y. Geração que ouve “no meu tempo não era assim” e “não fazem jovens como antigamente”.

Somos, também, da geração que não cumprimenta desconhecidos, que não sorri para caixas de supermercado, que anda com pressa pra chegar a lugar nenhum e que não casa na flor da adolescência para procriar. Deitados eternamente no berço esplêndido da comodidade e do fácil acesso. Presenciamos – e até protagonizamos - a era dos filhos que educam os pais e que, precocemente, têm crises existenciais e sofrem (não sabemos o porquê) de stress.

Substituímos a “infância livre” de nossos pais pelo mundo instigante da internet. Avessos à caretice mas preguiçosos e indiferentes demais para revolucionários do Estado Velho. Somos, basicamente, uma mistura de coisas que detestamos em nós com o que queremos ser. Sim, oscilamos entre os extremos de não ter forças para se levantar de manhã e uma vontade incontrolável de vencer. Deslocados no corpo que temos e com a convicção ingênua de que dias melhores virão. Sonhadores, urgentes, precipitados. Contemos glúten, gordura trans, tendência a diabetes. Afundamos a cabeça no travesseiro tentando organizar os pensamentos entre o que queremos pra nós e o que querem de nós.

Sim, senhores, às vezes também nos olhamos com olhar de censura. Volta e meia desejamos ter vivido Beatles, Hendrix, Jobim e Moraes. Gostaríamos de ter a coragem dos jovens comunistas de 64 para fazer ruir a barbárie política de hoje. Aliás, a barbárie política de sempre, e que só modernizou seu sistema e ganhou força com o nosso silêncio.

Se somos a geração da falta de gentileza, da omissão e do conformismo, é porque deixamos de ter medo de monstros para ter medo da decepção. Medo de não sermos bons o bastante, mas tentando incessantemente. Reconhecemos essa lacuna a ser preenchida. Mas, antes de qualquer coisa, somos fruto da geração livre. Somos filhos e netos dos revolucionários de 64. Somos apenas a última geração de uma cadeia de erros. 

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