— Eu te amo mesmo com meu estômago querendo
sair correndo agora.
A gente tinha acabado de jantar. Eu, como sempre, exagerei e
saí com dor no estômago de tanto comer. Depois a gente ficou de bobeira na cama
dele, olhando o teto e conversando sobre amor. Eu não sabia que era tão difícil
falar de amor depois que se ama de verdade. Antes a gente fala de como deve ser
o amor, como achamos que é ser amado, mas são apenas teorias. Quando você ama
de verdade usa coisas como “eu te amo até com meu estômago dilatado de tanta
comida” porque o romântico se transforma. Você percebe que os filmes exageram, porque um
beijo na ponta do dedo é muito melhor do que um beijo de reconciliação na
chuva.
Bonito mesmo é fazer as pazes. Bonito e difícil. Você tá lá,
cheio de razão, mas sabe que aceitar dormir brigado é como aceitar perder uma
guerra. Sim, porque quando você ama, ganhar a batalha é fazer as pazes, não ter
razão. Aliás, o que é razão entre duas pessoas que se amam? Fábula. Aqui ganha
quem pede desculpa primeiro.
Mais bonito do que jantar à luz de velas é ver quem vai lavar a
louça depois do almoço. Lavar a louça é chato, mas fazer parte do cotidiano de
alguém faz valer a pena.
Brigar é chato e nunca vale o esforço. Quantas discussões
você inicia por charme? Nem toda briga termina com ele batendo na porta molhado
da chuva com um buquê de flores na mão. Aliás, só vi tal façanha na ficção. O
tiro pode sair pela culatra, ela desligar na sua cara e não te atender mais até
o dia seguinte. Aí seu charme faz você dormir brigado com quem você ama. Então bonito, às vezes, é não ter charme.
Você pode achar que estou dizendo que devemos
ignorar toda e qualquer decepção, todo atraso e qualquer grosseria. Não, muito
pelo contrário.
Eu quero dizer que o
maior romance de todos é de quem sabe resolver o que quase não tem mais
jeito, que conserta o que está quebrado e renova o que está quase podre. Romântico
é saber conversar quando a vontade de gritar é maior. É buscar entender o que
houve de errado, mesmo que não seja errado pra você.
Amor é muito maior do que mostram por aí. Ainda bem.
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