Mesmo que eu me depare dentro de uma sala fechada, embebecida pela penumbra causada pelas janelas há dias fechadas... Ainda que eu veja o sofrimento borbulhar em teus olhos e que em mim ocorra o mesmo... Acabou.
Acabou o que não houve, o que quase aconteceu, a alusão de métodos ensaiados para ter-te ao meu lado.
Acabou.
Digo com justeza que após tantas reviravoltas, tornastes inócuo para mim. Tu, tuas palavras, tua marra. Peguei o copo meio cheio/meio vazio e despejei a água na pia. Quase não é nada, mas também não é tudo. E eu definitivamente quero tudo. Tudo que você possa me dar. Ou melhor - queria. "Queria" porque descobri que você é tão vazio quanto um casulo desvalido pela recém formada borboleta.
Se um dia você houvesse habitado fisicamente em minha vida, lhe mandaria embora. Faria uma cena: atiraria suas roupas pela janela e trocaria a fechadura da porta. Jogaria todos os lençóis fora e faria um enxoval novo, a fim de livrar-me do teu cheiro impregnado no meu quarto, na minha cama, me impedindo de dormir. E por fim, demoraria horas no banho, para arrancar o teu cheiro de mim, da minha pele, epiderme, derme, músculos e ossos. Porque apesar de teres se tornado inofensivo para mim, ainda necessitaria expulsar o teu eu de dentro do meu eu.
Mas não houve, então preste atenção nas próximas linhas.
Abra a porta, as cortinas e, por fim, as janelas. Vá até a geladeira e de lá, pegue minhas lágrimas. Depois, no armário, você encontrará um pote de lembranças; então recolha todas as palavras já ditas por você - foram todas bem guardadas ao longo desses anos, mas mesmo assim, elas apodreceram e passaram a me causar repulsa, como comida estragada.
Dê um jeito e tire seu cheiro do meu cérebro. E por último, pegue o pote que está na tua mochila, tire meu coração dali e coloque-o em cima da mesa. Sendo assim, vá embora e não olhe pra trás. Tenha certeza que farei o mesmo.
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