Um passo, dois, três e nada de chegar onde eu queria . Não que eu soubesse aonde estava indo, mas a intervenção divina faria bem naquele momento.
O tempo era de chuva e o dia era alguma quarta feira cinzenta de julho.
Eu não o via desde a última noite que passamos juntos. E que noite! Pele, cheiro, toque, vinho...
Lembro-me bem de ter acordado atormentada, inebriada, quase que abraçando uma nuvem de fumaça. Olhei pro lado e não o vi. Procurei por cada canto da casa, fui em busca de algum bilhete que dissesse "Fui à padaria. Volto já.", mas não encontrei. Suas roupas, que durante a noite foram espalhadas pela casa, não estavam mais no chão frio do meu apartamento. Naquele momento eu sabia que elas estariam acolhendo seu corpo quente, que por sua vez estava cada vez mais distante de mim.
As noites sucessivas não foram diferentes. Acordava no meio da noite quase que sufocando, emergindo de um oceano negro e profundo que me puxava pra baixo, me impedindo de respirar.
Passaram-se meses até que a dor do vazio anestesiasse, mas eu sabia que ainda estava ali, em algum lugar.
O tempo era de chuva e o dia era alguma quarta feira cinzenta de julho quando te vi. Ainda belo, resplandecente, caloroso. Ainda você. Que me matava e me amava naqueles dias de verão, quando eu achava que era pra sempre, o que com certeza, foi em vão. E a luz iluminava teu rosto brando e forte, viril. Lembrei-me das tuas pernas nas minhas pernas e tuas mãos nos emaranhados dos meu cabelos. Lembrei-me do teu cheiro de banho-recém-tomado misturado com o cheiro da tua pele. Lembrei-me de nós. E doeu novamente, ali, parada no meio da rua, no meio da chuva, no meio do nada.
No exato momento em que meus olhos pousaram em ti, depois de tantos anos, senti a mesma sensação de impotência, submersão, desespero. Até que você me viu.
Foi instantâneo e imediato você atravessando a rua com aquele pitoresco sorriso, teu e de mais ninguém. Você me abraçou e eu realmente me senti em casa, mas foi quase falso, quase cínico.
"Você pode não acreditar mas te amei durante todos esses anos, mesmo que longe. Mas hoje, o meu amor foi maior que minha covardia."
Foi assim o nosso (re)começo. Te olhei dentre lágrimas e senti uma sensação de dever cumprido.
Entre a dor e o amor está o coração do ser humano.. o texto é lindo
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