Tenho medo de que quando eu for repleta de amor – se é que isso é possível – eu não encontre mais palavras para amar. Tenho medo de que tudo se vá e fique no ar porque ouvi dizer que quando amamos tudo acontece apenas dentro de nós. Às vezes acho que é tudo uma questão de sofrimento. A angústia, solidão, medo despertam em nós o desconhecido. Daí a vontade de se expressar a qualquer custo.
Uns chamam de drama, eu chamo de vida. Não temos como nos privar, meu amor. A vida acontece fora de nós e para vivê-la é necessário amarrá-la com força e arrastá-la para o dentro do nosso eu. Aí quem sabe tudo faça sentido. Digo “quem-sabe” porque nada é garantido, mas assim que é bom. Foi o que o vento me falou, sabe?
Eu estava debruçada na janela observando aquele céu azul – que costumava ser o céu de nós dois – e por falar em nós dois, estava debruçada na janela sob o nosso céu azul e... Chorei. Chorei, sabe? Foi bem nesse momento que o vento me falou que é tudo incerto. Tudo branco, preto, transparente. E não só me falou como me provou, fazendo secar cada lágrima que derramei por você. Você que não era nada, mas se tornou assim tão rápido. Mas saiu de mim, molhou meu rosto e sumiu pela força daquele vento que me abraçou e me acolheu, mesmo que fizesse frio, mesmo que fosse verão. Ali eu tive um encontro com a verdade. E vou te contar, querido. Doeu. Doeu para chorar e para parar. Aí doeu pra entender... Porque se passamos a entender, é porque antes não entendíamos, e se não entendíamos, íamos de costas de encontro com o precipício. Então, virar-se e estar prestes a cair – ou já caindo – é um tanto chocante. Não que mate, nada mata. Nada além da morte. A morte mata, mas o que atrai a morte é outra coisa... Só que ainda é necessário entender. Cada um tem seu tempo, modo e lugar. Cada um tem sua lágrima – seja em palavras, música, um porre, outro amor ou em lágrimas de fato.
Quando a decepção chega, ela chega e pronto. É mal educada, espaçosa, insolente e preguiçosa. Arromba a porta, deita no sofá, pede uma cerveja e não quer ir embora de jeito nenhum. Mas já te falaram que o que não mata, fortalece, certo? Me falaram também, mas quando a gente tá quietinho, sem fazer barulho, a decepção vem e você esquece de se lembrar que não vai matar, muito menos de que vai fortalecer. Pelo contrário, pensamos não ter fim, não entendemos o começo, procuramos o porquê e ouvimos “porque sim”.
Não estou dizendo que fui atrás das respostas, não quero apressar o processo de entender. A vida entra no eixo, mesmo que um tanto desgovernada – não me importo. Desde que corra e passe devagar para que eu possa registrar com tanta solenidade cada efêmero momento que a outros olhos não é preciso ser lembrado.
Estou como estou porque fechei os olhos, os ouvidos e a boca para toda e qualquer opinião alheia. Deixei aberto apenas o coração. Não quero ser vítima da boa consciência humana, quero ser vítima de mim. Quero me ser e só. Não interfiro na paz de ninguém, sem anseios e talvez com pouca responsabilidade – o que se adquire com o tempo, sempre sem apressar o ciclo.
E por falar em ciclos, por mais que eu não saiba fechá-los, a vida se encarrega de fazê-lo por mim. Me surpreende o modo como lutamos tanto para que certas coisas aconteçam, e só quando nos aquietamos as coisas fluem. Chorei, choro e continuarei chorando. E por isso escrevi, e continuarei escrevendo. Continuarei vivendo, me permitindo.
Não atravesse meu caminho se você não quiser se libertar. De gente presa em si o mundo tá cheio. Meu próximo passo é voar.
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