Minha cama, nossos silêncios.

Os dias eram pateticamente iguais. Um a um, ao som do mesmo silêncio, sob o mesmo céu. Os papéis rabiscados disputando lugar com as roupas no chão do quarto. O sono em excesso, a cama sempre desarrumada, as refeições mal feitas. Ouvi minha mãe falar no quarto ao lado “Amar é nunca desistir”. Nem é tão triste assim. Dessa vez não há xícaras de café espalhadas - há semanas não durmo à noite -, nem gosto de cigarro na boca, porque é deprimente demais ficar triste e fedendo a cigarro; e as lágrimas nem são tão frequentes, são até bem-vindas, gosto de pensar que chorar liberta algo enorme que gosta de criar residência na nossa garganta. Nem triste, nem feliz, mas em silêncio, no meu silêncio, aprendendo a tirar você da cabeça, pra poder expulsar do coração. Mas sabe o que acontece? Acontece que depois da tempestade, vem você. E depois da calmaria, vem você também. Vem você e atropela o meu silêncio, os meus papéis e minhas roupas, o café que não tomei, o cigarro que não fumo e as poucas lágrimas que choro. Você devasta cada milímetro da minha estrutura sensível de conforto. Você é a paz que não me deixa em paz, e os teus silêncios sempre quebram os meus. E, pior ainda, os meus silêncios quebram os teus silêncios. Por mais difícil que seja me aninhar na minha cama sempre vazia demais pra mim, quando tudo passa se encaixar novamente, você vem. Deus do céu, por que você vem? Por que você deixa de vir? Olha, sei que meus silêncios interrompem os teus e os teus os meus, mas ainda que seja difícil dividir espaço com papéis rabiscados, você sabe, eu continuo aqui. E se eu fico em silêncio, é pra que você fale. Se eu continuo tentando fazer com que minha cama tenha espaço pra nós dois, é porque amar é nunca desistir...

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