Ela é de peixes, de alma, espiritualidade, conversão, inferno astral. Ele é de rir da cara de quem acredita em tudo que não for palpável e perecível. Ela é impulso; ele impulsivamente pensa dez vezes antes de pensar em fazer. Ela é ventania, intempérie, excessos e intensidade. Ele é sereno, cautela, mistério e malícia. Ele debocha das atitudes mal pensadas, ela age com descaso com quem perde um dia de vida pra pensar. Ele olha o mar, ela fita o fogo. Ele nunca entendeu essa necessidade mútua de estar perto de quem faz tudo do jeito contrário. Ela sempre pensou que essa necessidade mútua é a única explicação pra estar perto de quem faz tudo do jeito certo. Ele não teme a morte, ela não teme a vida. Ambos sentimentalmente promíscuos e promiscuamente sentimentais. Mascaram o amor com tesão, ignoram a paixão dando as mãos ao desejo. Ele finge que não se importa, ela se importa porque não finge. Como a velha história do Sol e da Lua que não ficam no mesmo lugar, mas quando ficam... Eclipse. Se abraçam, se engolem, se misturam, se escondem. Espetáculo que todos param pra observar. Ninguém entende. Ela passa horas tentando provar que o improvável é mais bonito, mas ele tem mania de querer provar e explicar todos os fatos. “Esse tipo de coisa, tipo nós dois, não se explica, só é.” – Aí ele para pra procurar sentido no que ela diz. Não é pra ter sentido, é pra sentir – e já sentem -, é pra deixar sentir. Ele que procurava a garota certa foi atropelado pela garota errada, que no fim sempre fora a certa. Ela que sempre fuçou atrás do não convencional foi atropelou o tradicionalismo em carne e osso. Não modificam um ao outro, mas vão se aceitando pouco a pouco. Escolha é de fora pra dentro, mas quando o dentro de um escolhe lá fora o dentro do outro, não restam opções a não ser se abraçar, se misturar, se amar.
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