Certeza

Há muito da vida que ainda não vimos, muito de nós que não descobrimos. Muito amor recém nascido, muita história-quase-vivida. Você sabe que não acaba por aqui, não sabe? Você também sente que ainda falta a história completa, não sente? - lê-se eterna, porque a vida é finda, mas nós vamos além. - Sei que sim. É verdade que tentei por inúmeras vezes te esquecer, excluir, expulsar de cada orifício, lembrança, cada poro da minha pele, cada cavidade do meu coração. Só me pego a pensar na imensidão daquilo que nem chegou a ser, e penso que se chegarmos a existir no mundo físico – já que no espiritual e figurado somos veteranos – escorreria pelas mãos uma palavra que se adéque àquilo que sinto e por ventura àquilo que podes sentir – ou já sente e quer se/me enganar?

Talvez eu me cale, talvez em embale pra sempre nessa história de querer te encontrar e te escrever. Não sei, só sei que te escrevo a ti e te escrevo e só. Só para mantermos as coisas como estão porque, vamos e viemos, a distância existe e os obstáculos são claros. Mas você consegue sentir eu te amando, não consegue? Não agora, sei que você não dorme mais sozinho... Mas vai tornar a dormir e a solidão vai arrombar a porta, então fique em silêncio e sinta... Eu aqui, amando você aí. E quem sabe mesmo não dormindo mais sozinho a solidão ainda te acompanha. Não é a falta de amor, é a falta do meu amor. E você nem sabe... Ou sabe e não quer correr? Ah, você sabe... Correr para mim, cair em meus braços, dar o ar da graça... Onde você está já é frio fora do corpo, você não precisa de mais gelo, já tem o suficiente no coração. Não apresso nem me dou o trabalho de fechar ciclos. Aliás, o ciclo eu-e-você se abriu sozinho, e eu é que não vou interromper a coisa toda.

Talvez eu te aguarde na sala de desembarque sem nada em mãos. Apenas eu e o amor que guardei pra te amar. Talvez eu deixe o rio correr, você crescer e se deixar levar. Não sei em qual mar meu rio vai desaguar, mas sei que todos os caminhos me levam a você. E sei que é recíproco, mas ainda vejo você fugir de si... Mas sorrio, garoto. E vou sorrir pra você quando você estiver bem aqui na minha frente, com as pernas entre as minhas, coração desacreditado de tanto sonhar sem sucesso. Sorrio sutilmente pra você se sentir em casa, casa essa onde você jamais morou, mas de onde sempre pertenceu. Adquiri essa convicção madura com o passar dos anos, sabe? Talvez seja da minha certeza que você tem medo. Porque quando você se olha no espelho reconhece que o destino é quem manda e desmanda nessa vida, e certas coisas fogem do nosso alcance. Você está longe, eu sei. Mas vem pra perto de mim, amor... Minhas palavras sobre você andam amargas e repressoras... Mas só gostaria de dizer que ninguém se assemelha àquilo que você é ou àquilo que vejo em você. Me rendo e te digo: conheço, encontro, me envolvo e beijo, mas é só. Porque quando beijo olho nos olhos e não te encontro. Dói. Falo do teu vazio como se fosse meu porque realmente é. Porque a escala “seis bilhões de pessoas no mundo e você só precisa de uma” não me atinge tanto quanto quando me deparo sozinha em minha cama sem pensar no resto do mundo, e vejo que você não está ali. Dói bem mais, sabe? Seja o que for ou o que tiver que ser te espero. Talvez não sozinha, apenas vazia, esperando o dia em que você vai pegar um avião e voltar, não pra mim porque não foi de mim que partistes, mas voltar e ser meu pela primeira vez. Sem devaneios ou complicações. Somos mais simples do que imaginamos e temos muito amor para amar. Te espero, como já disse. E te dar essa certeza é a coisa mais linda que posso fazer, estando você assim, tão longe de mim.

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