De repente me veio essa vontade louca de te consumir pouco a pouco e subitamente. De te puxar os cabelos e te beijar os lábios. De ter teu corpo dentro do meu corpo só para nos dar ao luxo de concretizar algo abstrato. Fui insana e admito. Fui contra as regras e assim serei até que me faltem regras para contrariar. Não sou pretensiosa, apenas conclusiva, impulsiva, absurda.
Gostaria de deitar minha cabeça no teu peito e ouvir que lá dentro, no dentro do dentro, quase mudo, quase inerte, quase fraco, quase bate um coração. Olhar no fundo do profundo dos teus olhos e dizer que está fraco não porque o quisesses assim, mas porque falta amor.
Formulo e ensaio perguntas que se florescem devido minha curiosidade de ti. Vontade de saber se você não sente falta de ter alguém só seu, de ser só de um alguém, porque só se é de alguém verdadeiramente quando somos apenas de um alguém só. Ser de todo mundo equivale a ser de ninguém. A ser sozinho. E solidão, dói, garoto. Eu que sei.
Talvez eu assuste, talvez não. Talvez eu te invada bem como quero e você não goste, mas talvez vicie. Talvez se sinta dependente da minha vontade de te descobrir porque assim sendo, te faço pensar em quem és para que tenhas respostas reais. E que sejam reais, garoto. Porque tenho o olfato, tato, paladar, visão e audição apurados para reconhecer mentiras precaussivas. Mentiras de proteção para que eu não chegue onde há anos nem você chega.
Aliás, por mais dura que seja a realidade, ela é imutável. Você se trancou num quarto escuro e você sabe que está apodrecendo lá dentro, mas não quer sair. Não quer deixar ninguém entrar. Mas nunca gostei de burocracia, nunca precisei das chaves para entrar em casa. Arrombo a porta se eu notar que é só fachada.
É como a velha história da ferida, dói pra ferir, dói pra limpar, coça pra cicatrizar, mas depois passa e você só se lembra de como se machucou pra não se ferir de novo. Você tá assim, garoto. Sei que doeu quando te abriram a ferida, mas ela ainda tá aberta e eu preciso limpar. Com licença, preciso fazer meu trabalho. Te cuidar, te mimar, te curar... Tudo pra te ter. Tudo pra te ter, garoto.
Sei você já foi de um só alguém, alguém que era podre de dentro pra fora (porque a tua podridão é ensaiada, forçada, de fora pra dentro), e que te abriu a tal ferida. Sei que o reflexo é se espelhar na podridão desse alguém e tentar ser como ele, é como se você devesse isso a si mesmo. É como se você precisasse fazer com que os santos paguem pelos pecadores só pelo bel prazer. Autossatisfação. Você quer deixar a dívida paga com quem não comprou fiado, garoto. E isso é quase tão insano quanto a minha vontade de te fazer ser homem de verdade de novo.
Lamento mas você esbarrou na mulher errada. Eu analiso, estudo e percebo. Não faço jogos, mas se você fizer, eu posso jogar. Não me incomodo. Quanto mais movimentos você fizer, mais detalhes eu tenho pra te estudar.
O que foi? Está nauseado? Quer descer da minha montanha russa? Só se me olhar e disser que cansou de brincar. Eu abro a porta e paro com tudo, garoto. Mas por enquanto você se mantém aqui do meu lado, mostrando não gostar dos loopings dessa relação, mas tuas mãos, olhos, pele e lábios dizem o contrário. E eu sou fiel aos sinais, não às palavras. Palavras erradas no momento certo são equívocas e inúmeras vezes nada complacentes. Deixa ser, garoto. Deixa eu te invadir um pouco mais, te cutucar mais umas vezes, até que você se acostume com a sensação de ser só meu e eu ser só tua. É. Pode ser, garoto. Fica bonito no papel. Vem cá e vamos tentar na prática. Vamos nos praticar. Vem, garoto. Cansei de ver essa ferida exposta me chamando de impotente. Quero te mostrar quem manda, e quem manda é você.
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