Vazio

É isso que sobra quando não sobra mais nada: um buraco. Porque queríamos ter cativado, queríamos ter cuidado e ter sido cuidados, queríamos todas essas coisas que se materializam num abstrato enorme ou pequeno demais, e que se alojam dentro de nós.
Quando a gente não recebe o que dá - não por mesquinharia ou pretensão, mas porque quando damos infinitamente sem receber, ficamos vazios. Ou o amor de um alimenta os dois?
Quando o "tudo" definha até ser nada, sofrimento em doses homeopáticas, "tinha-que-acabar". Mas quando acaba porque é tirado de nós... Aí sobra um "nada" inconformado, frio, amargurado e sempre esperançoso. Essa esperança do vazio dói. Dói porque acha que pode voltar a ser tudo, porque lateja, arde, palpita, mas continua sendo nada.
Fui tirada de mim e não sei se volto a me encontrar. Não a mesma, não a de antes. Não mais a precipitada, a devota, a urgente; não mais a transbordante, porque não há mais do que se transbordar. Foi lapidado em mim um bosque friamente desabitado. Voltei à solidão de mim e não lamento, porque sei que eu jamais seria capaz de me deixar, porque eu não conseguiria arrancar tudo de mim até que não sobrasse nada, e partir. Eu sou a minha última parada, companhia inevitável e eu não me abandono jamais.

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