Não tão distantes

Amamos as lembranças. Amamos, sobretudo, a pessoa que era e como era antes de tudo virar apenas memória. O tempo não cura, muito pelo contrário. O tempo fere porque traz consigo uma distância que nos impede de acompanhar as mudanças que, inevitavelmente, vêm.

Hoje eu me lembrei do teu riso fácil. Depois, da tua impenetrabilidade que eu tanto queria romper. Por via das dúvidas, me lembrei também do teu beijo e, há várias lembranças de distância, me senti invadida de novo.

Pra não deixar faltar nada, reli tudo aquilo que te escrevi quando ainda acontecias em mim. Até ri da minha ingenuidade que tentava te convencer a me deixar ficar. Hoje eu parei pra olhar tua vida de longe, como quem namora a vitrine de uma loja do outro lado da rua. Aqui, há alguns quarteirões de meses de separação, eu vi que você me deixou ficar. Então eu fiquei. E você foi.

Agora você reside há alguns quilômetros de sonhos perdidos, não muito diferente de mim. Eu te vejo aqui do outro lado das lembranças e constato que nada mudou apesar de tudo ter mudado. Você tá aí ferido, e eu tô aqui querendo curar, mesmo sabendo que não posso, que não tem como. Eu tô aqui querendo cuidar.

Aí, algumas noites atrás, você esbarrou em mim de mansinho e deixou cair no chão um coração cansado. Não mais tão distantes, te pergunto entre as lembranças que trazemos à tona se posso juntar o teu amor exausto e guardar aqui no meu bolso, porque você sabe que eu jamais deixaria cair no chão aquilo que você carrega aí dentro.

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