Acho que é possível

Nosso reencontro foi por acaso, novamente em uma sala de aula, depois de sete ou oito anos de nenhum contato. Agora mais velhos, e não mais brincando de guerrinha dos sexos mirim no recreio do ensino fundamental, frequentávamos aquele cursinho com o mesmo objetivo sensato de garantir o pão de cada dia (ou o salário de cada mês, pra ser realista). Aquele garotinho que um dia havia me empurrado em cima de um tronco de árvore cortado e me deixado uma cicatriz na canela por isso, hoje estava meio metro mais alto, mais malandro, mais bonito, mais desejável. Trocou as remelas de criança pela barba por fazer e o suco de uva pela cerveja com os amigos no final de semana. De alguma maneira, a gente costuma ignorar os efeitos do tempo quando muito dele já passou.                                                                                
Entre risos constrangidos e interessados, ele me convidou pra sair. O convite em si soou muito mais leve do que todo o resto, já que estávamos tagarelando ridiculamente em busca de aprovação mútua.

“Acho que a gente poderia sair essa semana. O que você acha?”

Eu acho que tenho medo. Acho que tô velha e nova demais pra isso, que não sei como me comportar nessas situações e em muitas outras também. Eu falo demais quando tô nervosa e sou romântica em excesso sem demonstrar qualquer traço de emoção. Eu não tenho um bom histórico amoroso, eu tenho pânico quando vejo as coisas se afunilando e ficando sérias demais e, apesar de aparentar o contrário, eu não sei lidar com muita coisa que surge na minha vida. Eu fujo porque um dia já me entreguei e hesito porque um dia não tive medo. Por outro lado, acho que tô cansada de desistir antes de tentar, e que tô precisando de colo. Mas tenho certeza de que não preciso de mais promessas; cumpridas ou não, eu não preciso mais de expectativa a longo prazo. Uma coisa é criar esperanças pra um primeiro encontro, mas esperar por um sentimento... Ninguém aqui precisa de tortura. Só que se você quer saber, também sinto falta de dar segurança, de dar afeto, ter e ser de alguém. Eu acho que se você tiver paciência, talvez eu consiga deixar você entrar. Mas por favor, só você. Tudo o que for expectativa, promessa e decepção você deixa do lado de fora.

“Acho ótimo. Que dia fica melhor pra você?” 

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