Eu te escolhia todos os dias. Acordava de manhã, tomava um
café e te escolhia. E também à tarde a minha escolha era você. À noite, logo
antes de dormir, eu te escolhia só mais uma vez. Por fora eu me fazia paz.
Coisas que a vida ensina. Não se abrir demais, não chorar em público, não
confessar sentimentos. Mas, por dentro, eu te implorava. E pedia para que a
vida te ensinasse coisas diferentes das que aprendi. Que te mostrasse que amar
vale a pena, que chorar não é vergonhoso e que amor dado é amor confesso.
Mas acontece que você sempre se julgou esperto. Experiente
demais para ter o que aprender. E, como se tudo fosse um jogo, movimentava
sentimentos como peças no tabuleiro. Você nunca me devolveu nem aquilo que eu
tentei te dar. E eu, ingênua, achava que querer amar já era amor. De manhã em
manhã eu passei a acordar cansada, sem forças pra te escolher. E à tarde, você
nem fazia tanta diferença assim. Quando eu me deitava pra dormir, exausta,
pedia pra que a vida me ensinasse coisas diferentes das que já me ensinou. Que
me mostrasse que amor é uma via de mão dupla, e que se ama com o amor que se
recebe. Não é crime querer receber amor. Não é errado querer retorno quando
aquilo que oferecemos é tudo o que somos.
Isso não é um jogo. Não é sobre disputa de razão. É somar,
transbordar e só dividir se for a tarefa de cuidar um do outro. Olha o tanto de
coisa que o amor é e que a gente, doido pra amar, acha que ama sem nem conhecer
o amor. E se despedaça, e se tortura, e se sufoca pela ideia de um sentimento. Isso é sobre acordar de manhã e escolher
alguém que, antes de dormir, escolheu você. O resto é tortura, paranoia e
desamor.
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