O Fim

A pessoa que eu sou não gosta de festas. Gosto do clima festivo, mas balada, não. Mas fui, tenho ido, e provavelmente irei, não sei por quê. Fui a uma balada conhecida na minha cidade pra comemorar a minha formatura do ensino médio. Lá, o de sempre: pessoas e mais pessoas dançando freneticamente em silêncio ou gritando o que era pra ser a música tocada; alucinadas, fora de si, inclusive eu, ninguém se suportaria naquele lugar sem a música, o álcool e aquela esfera de loucura. Naquele dia, um rapaz e seu amigo saíram da mesma balada em que eu estava e pegaram o carro para irem a algum lugar – que independente de qual lugar era o destino final seria, sem dúvidas, suas casas, com suas famílias -, mas o rapaz não voltou. Sofreram um acidente de carro a alguns metros da casa noturna em que estávamos. Isso me chocou, me estremeceu, poderia ter sido comigo ou não? Esse rapaz não se despediu de ninguém porque ele ia voltar pra casa, ele sabia que ia, mas não voltou. Como fica então? Vamos continuar pensando que vamos morrer velhinhos de alguma doença que mata lentamente? Ou que vamos morrer também velhinhos, só que dormindo, serenamente, para que nossos familiares digam lamuriosos: “Viveu bastante, que descanse em paz.”? E se não for assim? E se for repentino, sem aviso, sem preparo? Aliás, quem está preparado pra ir embora? Isso me fez pensar sobre o que eu estava fazendo dos meus dias. A gente evita pensar sobre a morte. Não é um assunto confortável, nunca vai ser, mesmo que a morte seja a única certeza da vida. Irônico, não? Estar vivo não significa viver, existir não é necessariamente se sentir vivo, mas morrer é, obrigatoriamente, morrer. Incômodo. Nos dias seguintes pensei incessantemente: “O que é que eu estou fazendo dos meus dias?”. Uma vez um amigo me disse: “Quem tem tempo demais não o aproveita”. Doeu. A gente acha que tem tempo sobrando, talvez aquele rapaz achasse o mesmo e... Fim. Como bons inconformados que somos, procuramos teorias pós-morte que nos deem a sensação de que a morte não é o fim: vida após a morte, céu, inferno, purgatório... Não é errado desde que não esperemos mais por nada. Desde que não esperemos a próxima semana pra fazer aquilo que queríamos ter feito hoje. Sim, “o tempo escorre pelas mãos” e não há nada que se possa fazer com isso além de aproveitar cada segundo em que estamos em contato com ele. Enquanto há vida por fora ainda há solução pra quem está morto por dentro, mas quando você morre por completo não há mais nada que se possa fazer.

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