Alessandra Souza

“Talvez o mal é que a gente pede amor o tempo todo. Não se preocupa nunca em dar amor, sem esperar reciprocidade.”
Caio Fernando Abreu

Sabe o que dói? Não é o amor, a tristeza, a perda, o fracasso... O que dói é a expectativa e a decepção que ela traz. O que dói é você dar o melhor de si, todo amor que você ama, todo sonho que você sonha e esperar de volta o mesmo, ou mais. Dói chorar e sentir que seu coração se sente preso dentro de você. Que ele quer se libertar dessa caixa de ossos que você se tornou, ou que você sempre foi... Vai saber. Dói a dor sem ter o que dizer, como dizer, nem por que. E por mais melancólico e azedo que seja falar de dor, ela não deixa de existir dentro de você. Por mais adolescente que soe, enquanto você esperar demais e até de menos, vai doer. Esperar que te liguem, que te chamem pra sair, que te deem um abraço, que sintam tua falta. Deitar com alguém que não te ama e que você não ama também, mas desejar que o amor passe a existir ali, de um segundo pra outro. Fechar os olhos, sentir o corpo desse alguém no seu e fingir por alguns instantes que a realidade é outra, que existe algo além do físico, do banal. Voltar pra casa, se sentir sozinho e sentir que por mais que você tenha com quem conversar ninguém é capaz de sentir a mesma dor à medida que você fala. Palavra por palavra, dor por dor. Então digo que bonito é não ter medo de que doa, não ter medo de esperar, não evitar nada nem ninguém. Bonito é sentir-se feliz ao fazer café, ao arrumar a cama, ao deitar-se nela. Bonito é sentir a felicidade dançando no peito como quem dança na festa que você não foi porque preferiu ficar em casa lendo Caio e ouvindo Chico. É sentir verdade nas poucas demonstrações de afeto que lhe chegam aos olhos, aos ouvidos, ao tato. Bonito é doer, porque doer é sentir-se vivo. Sentir que você se importa, que sente, que ama, chora e ri. Sentir-se vivo. Não esqueça, por favor. Sinta-se vivo. Por mim, por você, por nós.