Adorável

Quase sempre me lembrava dela quando ouvia alguém falar de choro. Ela não era exatamente chorona, mas era chorável, entende? Eu mesmo a vi chorar poucas vezes, mas foram todas bem observadas e se não fosse por falhas memoriais eu talvez me lembrasse até dos motivos que lhe fizeram derramar as infames lágrimas. Isso nela me impressionava... Isso, sabe? Ela não tinha medo de ter o rosto molhado por aquelas lágrimas. Diferente de mim, que só chorava por dentro. Pequena, tão pequena... Seu porte me fazia ter vontade de protegê-la. Proteger do quê, afinal? Do mundo, da vida, dela mesma... Porque você sabe, havia muito dela que ela ainda não conhecia. Um muito tão reluzente que era capaz de ser visto de longe, mas ela não via. A menina no cume da montanha com as asas abertas... As asas dominavam seu corpo em estatura, mas sua mente não as deixava voar. A luta interna. Ela já estava no cume, mas desejava o horizonte. Ela desejava o horizonte, mas tinha medo de sair do cume, que soava tão familiar e conquistado. Minha vontade muitas vezes era de invadir seu cume e empurrá-la. Vai pequena, desbrava esse horizonte, que ele é teu por merecimento. Posso vê-la voando com os olhos cheios de lágrima. Ela é uma das poucas pessoas que não desvia o olhar enquanto chora. Você tem noção de como isso dá vontade de chorar também? Se dizem que os olhos são a janela da alma e todo mundo desvia o olhar, ela deixa a alma aberta, exposta, quase sem medo. A menina no cume da montanha com as asas abertas...

Nenhum comentário:

Postar um comentário