Anseio

Vim dizer que estou novamente naquela fase medíocre na qual volta e meia eu me encontro. Esse momento me engole quando eu não consigo mais fingir que meus sonhos não são tão importantes, que meus objetivos podem esperar e que não tenho limitação alguma - posso e faço tudo que quero e até o que não quero. Horrível, eu sei. Mas não sou a única, então não me faça essa cara de pavor mesclada com pena. Você pode me perguntar qual a razão de evitar todas essas coisas até chegar ao ápice, e o ápice sempre chega, chegou novamente e, adivinhe só, me derrubou como se fosse a primeira vez. Sempre derruba, mas eu sempre me levanto e é uma questão de tempo até que eu fuja de mim outra vez. Talvez eu não saiba lidar com a minha pressa, com o medo de não ser atendida, acolhida. Não sei. Tudo bem, eu sei que você não pode fazer nada a respeito, mas será que pode me ouvir? Me ouvir e me entender, se não for pedir demais. Dá pra olhar além de mim? Além da casca, do temor, da impenetrabilidade. Consegue tocar onde nem eu me permito chegar? Fisicamente, uma tremenda surra. Mentalmente, caos. Deitada e envolta na fumaça dos cigarros que não fumei sinto as paredes se fechando, o ar faltando, o tempo escorrendo pelo meu corpo seminu. Não, não vou falar dessa bobagem de resgate e salvação. Se as paredes têm se fechado é porque eu tenho tentado vertiginosamente fugir de mim e dos meus sonhos e dos meus objetivos e limitações. Tá me achando covarde, eu sei. Mas não dizem que só o dono da dor sabe o quanto dói? Então. Não há resgate, não há herói, não há nem mesmo você, que sempre foi a suposta solução pra todo esse meu orgulho desmantelado. Não há nada além da fumaça, do ar rarefeito, do tempo escasso e das lágrimas, acredite. Sei que você não tem tempo pra melancolia, pra minha melancolia, mas mesmo que você não seja a solução, mesmo que seja só o problema, te peço pra que estejas aqui. Sem palavras, promessas, deliberações, sem nada. Sinto que as paredes fecham mais devagar se você está aqui. Só fica ainda mais difícil de respirar, mas isso a gente resolve depois. Olha, eu to com medo. Não solta da minha mão, tá? Ficou tudo muito confuso desde que você partiu e você sabe, eu já sou confusa o bastante pra viver em meio ao desespero da desordem. Tá difícil de suportar, querido, eu juro que tá. Você vai entender quando as paredes começarem a se fechar pra você e as lágrimas embaçarem a sua visão. Mas olha, quando isso acontecer eu vou estar aqui. Porque o dono da dor sabe o quanto dói e vamos sentir juntos, vamos doer juntos, vamos juntos.

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