Geralmente quando fico nervosa o ritual é o mesmo. Começa com pensamentos inofensivos, que se tornam problemas palpáveis vestidos de um monstruoso leviatã pronto para me engolir. Procuro algo para por nas mãos, uma caneta, um grampo, uma granada. Se não encontro, passo a tatear pernas, móveis, estalar dedos, reparar nas unhas roídas. Esse é outro problema, eu roo unha. Pode dizer, é nojento e indelicado, mas minhas unhas colocam Maracujina no chinelo. Daí o pensamento não é mais pensamento, vira sentimento, e dos bem nervosos. Pensar começa a me dar calafrios, o que não é muito inteligente. Quando isso acontece, eu me escondo, e me escondo do jeito mais besta que você já ouviu falar: vou pra debaixo do edredom, sem deixar nem um fio de cabelo pra fora, me ponho em posição fetal e fecho os olhos com força. Mentalizo: “tá tudo bem, tá tudo resolvido, tudo resolvido, resolvido (...)” Como se eu não fosse precisar pelo menos colocar a cabeça pra fora pra respirar. Então sabe, quando eu falo pra você que fiquei irritada, não me imagine caída num sofá velho rodeada por embalagens de bombons. Eu me escondo. Eu roo unha por unha. Eu penso em te ligar e te dar uma bifa por telefone. Mas não faço nada, porque nem me permito ter raiva nem de nada nem de ninguém. Não, não estou fazendo yoga. Terapia? Você acha mesmo que alguém que se esconde debaixo do edredom vai bater papo com um estranho esperando por ajuda? Eu só acho que quando a gente sente raiva de algo ou de alguém só machuca a si mesmo. E sinceramente, eu não tenho unhas extras pra amarguras e decepções.
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