Sabe, eu queria que você me conhecesse. Não de conversar, de conhecer família, de saber do íntimo, do ínfimo, do obsceno ou sentimental. Se isso bastasse diria que você conhece até o ciclo de multiplicação das minhas células. Queria que você conhecesse minhas manias, meu jeito, meus rituais sempre fielmente realizados. Tem uma porção de coisas que você nem imagina. Como a felicidade besta que me consome quando eu posso sentar em frente ao computador e ler textos e mais textos dos meus escritores favoritos, dando uma pausa pra escrever os meus próprios, indo na cozinha pegar algo rápido e gordo pra comer. Ou como eu saio do banho e fico só com a roupa de baixo – meu corpo não aceita mais do que roupas de baixo pra desacelerar funcionamento e me deixar dormir – deito na cama com as pernas pra cima e apoiadas na parede, coloco meus fones de ouvido e canto música por música da minha playlist. Você nem tem ideia das vezes que sentei na minha mesinha branca e escrevi à mão sobre você, e das vezes que fiz isso e chorei. Às vezes eu sento na cama e fico encarando o guarda-roupa e essa é a minha viagem pra Nárnia. Eu entro em transes de ficar tempos olhando pra um ponto fixo sem piscar. Eu cozinho tudo com muito molho Shoyu porque até hoje não descobri nenhum tempero que faça ficar com gosto de “eu que fiz”. Aliás, sempre que cozinho queria que você tivesse comigo pra fazer cara de nojo antes de repetir o prato três vezes. Você nem me viu brava de verdade! Não é falta de fé ou desesperança, mas é que uma hora o carnal vira banal e a gente precisa se apegar a esse tipo de trejeitos. Eu queria que você fosse a única pessoa que me visse gargalhando e me falasse “eu te conheço, você não tá bem.”. Queria te mostrar a minha caixinha de lembranças, meus primeiros textos, a carta que eu fiz pro meu futuro marido – que eu queria que fosse você, sabe? Ia ser complicado no início. Você dorme e acorda cedo, eu varo a noite escrevendo meus sentimentos. Você vai de bicicleta, eu nem vou. Você pega onda, eu pego meu travesseiro e vou dormir. Você abomina meu gosto musical mas te associo a todas as músicas que canto deitada só com roupa de baixo e com as pernas pra cima. Sabe o que eu acharia lindo de viver? A gente ir num restaurante e você pedir a minha comida por mim sem nem me perguntar o que eu vou querer. Besta, eu sei. Eu sou cheia desses detalhes abobados, o que há de se fazer, né? Nem precisamos fazer mudanças radicais. Podia começar com você se esforçando pra ler – eu super admiro sua habilidade com exatas, mas preguiça de ler, não, vai! Sabe, eu só queria que você, por ser você, fosse onde ninguém jamais foi. Conhecesse o que ninguém teve o prazer de conhecer. Queria que você fosse meu como eu jamais fui de mim mesma.
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